Inteligência Artificial e Sociedade

Os impactos para uma população que envelhece e para os nativos digitais.

A Inteligência Artificial deixou de ser ficção científica para se tornar parte do nosso cotidiano. Do atendimento em bancos aos filtros de redes sociais, passando pela redação de textos e diagnósticos médicos, a IA está em todo lugar. Porque e como essa revolução tecnológica afeta duas camadas muito distintas da nossa sociedade? Uma das camadas é a população que envelhece, em sua maioria com baixa escolaridade. A segunda camada são os nativos digitais, que já nasceram conectados.

A realidade: envelhecimento e baixa escolaridade

Vivemos um processo acelerado de envelhecimento populacional. Em poucas décadas teremos mais idosos do que jovens. Isso já é percebido, nas cidades com menos de 100 mil habitantes. No entanto, grande parte dessa população tem apenas o ensino fundamental, médio incompleto e médio completo. Isso significa que muitos nós e os que estão envelhecendo carregamos uma limitação educacional que impacta diretamente sua relação com a tecnologia.

Agora a IA — uma inovação que não se explica sozinha, exige interpretação crítica e, muitas vezes, domínio de inglês ou de jargões técnicos. E mais, se queremos ter acesso a essa tecnologia mais aprimorada, temos que pagar para isso. O simples Login em uma plataforma de IA, seja qual for a escolhida não garante respostas corretas às nossas buscas.

O impacto para a população que envelhece

a) Barreiras de acesso e compreensão

Idosos que já tiveram dificuldade em se adaptar ao celular e às redes sociais podem ver a IA como algo ainda mais distante. A linguagem técnica, os sistemas rápidos demais e a falta de tutoria tornam a experiência desafiadora.

b) Risco de exclusão digital

Serviços públicos e privados cada vez mais dependem de automação e atendimento digital. Quem não consegue lidar com tudo isso, pode ficar à margem e depender de terceiros para resolver questões básicas. Isso já é realidade.

c) Dependência de familiares ou serviços pagos

O idoso sem preparo digital tende a recorrer a filhos, netos ou empresas que cobram para intermediar processos simples. Isso gera vulnerabilidade e pode até facilitar golpes.

d) Potencial de inclusão

Por outro lado, a IA também pode ser uma aliada. Ferramentas de comando por voz, tradutores automáticos, aplicativos que leem textos em voz alta e sistemas de saúde inteligentes podem dar mais autonomia a idosos — desde que sejam pensados com acessibilidade e linguagem clara.

O impacto para os nativos digitais

a) Facilidade técnica, mas pouca reflexão

Jovens que nasceram conectados têm habilidade natural para mexer com celulares, aplicativos e ferramentas de IA. Porém, isso não garante que saibam usar a tecnologia de forma crítica e estratégica. Usar a tecnologia de forma crítica. Significa não aceitar cegamente o que a ela produz.

  • Questionar a fonte: de onde vêm os dados que usou para dar a resposta?

  • Desconfiar da “neutralidade”: entender que a IA pode reproduzir preconceitos, erros ou manipulações presentes nos dados que a treinaram.

  • Comparar versões: em vez de confiar no primeiro resultado, checar em outros canais, como livros, artigos ou sites confiáveis.

  • Não terceirizar totalmente o raciocínio: a IA pode sugerir, mas a decisão final precisa ser sua.

Um aluno pede para a IA resumir um livro. Usar de forma crítica é ler o resumo no próprio livro, mas também conferir o original e perceber o que foi deixado de fora.

Usar de forma estratégica

Significa colocar a tecnologia a serviço de objetivos claros, e não apenas usar porque está na moda.

  • Ganhar tempo: automatizar tarefas repetitivas responder e-mails, gerar rascunhos, organizar planilhas.

  • Ampliar capacidades: usar como apoio para aprender mais rápido, testar hipóteses ou explorar novas ideias.

  • Direcionar para resultados: cada uso deve estar conectado a um propósito: melhorar estudos, aumentar produtividade, expandir um negócio.

  • Saber até onde usar: a estratégia inclui reconhecer os limites da tecnologia. e quando é melhor confiar em nosso próprio trabalho.

Um empreendedor usa para rascunhar descrições de produtos. Mas de forma estratégica, ele revisa os textos, adapta ao tom da marca e decide quais ideias realmente funcionam. Em resumo:

Ser estratégico = usar com objetivo, tirar proveito prático, mas sempre com a sua supervisão humana.

Ser crítico = não acreditar em tudo, questionar, verificar.

b) O risco da superficialidade

O uso indiscriminado da IA para estudar, escrever e criar pode levar à dependência excessiva e à perda de habilidades essenciais: leitura aprofundada, escrita autoral, pensamento lógico e criatividade.

c) Mercado de trabalho mais competitivo

Profissões baseadas em tarefas repetitivas — como digitação, análises simples e atendimento — tendem a ser automatizadas. Os nativos digitais precisarão investir em competências humanas que a tecnologia não substitui: criatividade, empatia, ética, pensamento crítico e resolução de problemas complexos.

d) Potencial de inovação

Com orientação adequada, os jovens podem transformar a IA em trampolim: criar negócios digitais, desenvolver soluções criativas e acelerar o aprendizado. A diferença estará em quem usa a tecnologia para pensar melhor e quem apenas a usa como muleta.

O desafio central

Desigualdade educacional

Enquanto os jovens têm contato precoce com a tecnologia, os idosos enfrentam barreiras estruturais de educação e acesso. De um lado, os que dominam a tecnologia; de outro, os que ficam completamente à margem.

Oportunidade de virada

Com políticas públicas e iniciativas privadas que promovam educação digital em linguagem clara, acessível e prática, toda tecnologia pode ser uma ponte, não uma barreira. Cursos gratuitos, tutoria comunitária e interfaces amigáveis podem transformar idosos em usuários autônomos e jovens em inovadores conscientes.

Conclusão: duas gerações, um mesmo desafio

A Inteligência Artificial coloca diante de nós uma encruzilhada.

  • Para os idosos, o risco é a exclusão e a dependência.

  • Para os jovens, o risco é a superficialidade e a dependência acrítica.

Uso da Inteligência Artificial em Seus Aspectos, Riscos e Resultados

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